A Fortuna e o Moço


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Diz um conto, que jazia
Sôbola borda dum poço,
Cheio e fundo em demasia,
Onde com párvoa ousadia
Quis dormir a sesta um Moço.
Nisto, a Fortuna passou:
E vendo o que ali se azava,
Foi-se ao Moço, e o acordou;
Deu-lhe muito, ele gritou;
Ela dava, ele gritava.
Porque (diz) com tão mortais
Golpes me tratas assim?
Ela responde (e dá mais):
Porque errais; e do que errais,
Me pondes a culpa a mim.
Quer no mar e quer na terra,
Buscais o risco por cama,
Trocais a paz pela guerra;
Então, se o apetite erra,
A Fortuna é quem se infama