“ Correio da manhã" noticia sobre racismo- sociologia


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14 Outubro 2008 - 00h30
S. João da Pesqueira: Jovens imigrantes barricados num galinheiro

Povo em fúria tenta linchar 4 estudantes
"Ou eles mudam de comportamento ou então vai haver mortes", desabafa José Lopes, espelhando o sentimento da população de S. João da Pesqueira onde, no domingo à noite, alguns moradores tentaram linchar quatro alunos de países africanos de Língua Oficial Portuguesa (PALOP), acusados de a agredir três pessoas. O confronto não acabou em tragédia devido à intervenção da GNR, que resgatou os imigrantes do galinheiro de uma habitação e os levou sob protecção para o posto.
O mau relacionamento entre os estudantes africanos – que frequentam a Escola Profissional da Pesqueira – e jovens da vila dura há algum tempo, mas agudizou-se no fim-de-semana, depois de um imigrante de S. Tomé e Príncipe ter agredido três pessoas. Uma delas é António Lopes, de 56 anos, atingido com um murro que o obrigou a internamento no Hospital de S. João, no Porto. Após a agressão, meia centena de pessoas, armada com paus, concentrou-se em frente à casa onde estava o agressor e três amigos, e tentaram fazer justiça pelas próprias mãos.
A GNR, que teve de pedir reforços aos postos vizinhos, só ao fim de quatro horas (pelas 23h00) conseguiu resgatar os jovens em segurança, perante a fúria dos populares, que se dizem "fartos do comportamento" dos estrangeiros. "São conflituosos e mal-educados. Arranjam problemas com muita gente mas agora bateram a má porta", diz José Lopes.
O jovem acusado de agressão não foi ontem às aulas e, a meio da tarde, apanhou um autocarro e foi passar uns dias a Lisboa. Apesar de a GNR ter reforçado a vigilância, alguns alunos africanos não saíram de casa, com medo de represálias. Edma e Alexandra são duas das jovens que "temem pela segurança" e receiam "ser vítimas de racismo".
"DEU-ME UM MURRO"
Até ontem à tarde, apenas duas das três pessoas agredidas tinham apresentado queixa na GNR. Pedro Dias, de 35 anos, foi agredido no sábado à noite: "Um deles cuspiu-me na cara e depois ameaçaram-me com tacos de basebol", conta. No domingo à tarde foi a vez de António Lopes. O agricultor diz que "um dos jovens estava a bater num amigo" e socorreu-o. Pouco depois "o mesmo rapaz, acompanhado por mais dois, abeirou-se de mim e deu-me um potente murro que me deixou cego", recorda António Lopes que não se diz racista mas quer que eles "abandonem" S. João da Pesqueira. Este é, aliás, o sentimento de grande parte da população, um facto que deixa "muito triste" João Almeida, director da escola: "Vamos analisar a situação. Foi um caso pontual. O jovem é muito bom aluno", diz, salientando que ele só muda de escola "se essa for a sua vontade".
PORMENORES
IRA POPULAR
A revolta popular foi um inédito na vila. "Parecia a Cova da Moura. Era só gritos de morte e vontade de fazer justiça pelas próprias mãos", diz Alda Figueiredo, que assistiu a tudo de sua casa.
RACISMO
O comandante da GNR de Moimenta da Beira, Gonçalo Brito, não acredita que "seja uma situação de racismo e xenofobia", porque os jovens já estão na vila "há três anos e nunca tinha havido problemas".
INTEGRADOS
O director da Esprodouro diz que hoje estudam naquela escola 17 alunos dos PALOP. O alegado agressor anda no terceiro ano do curso de electrónica. "Todos eles estão bem integrados", diz.
Luís Oliveira